segunda-feira, 17 de dezembro de 2012

A nova classe C


A nova classe C

Autor(es): Osvaldo Russo
Correio Braziliense - 17/12/2012


Estatístico, é diretor de Estudos e Políticas Sociais da Codeplan
Há um debate na sociedade, no governo e no mundo acadêmico sobre a formação de uma classe social denominada “nova classe média” ou “nova classe C”. Polêmica à parte, sobre a sua natureza (classe social ou estrato de renda), o fato é que esse grupo vem crescendo nos últimos anos, engrossando a legião de consumidores no país. Nesse sentido, a Companhia de Planejamento do Distrito Federal (Codeplan) apresentou uma análise dessa classe C no XVII Encontro Nacional da Associação Nacional das Instituições de Planejamento, Pesquisa e Estatística (Anipes), em Fortaleza.

Em geral, as camadas médias da população são constituídas por profissionais liberais, servidores públicos, assalariados do mercado formal, microempresários, pequenos produtores rurais e categorias profissionais análogas. Essa categorização leva em consideração não só a renda, mas o grau de instrução, a cultura, os hábitos de consumo, o local de moradia e, sobretudo, os valores desse estrato social.

Nos últimos 10 anos, com o aumento real do salário mínimo, a adoção de uma política social consistente de transferência de renda e a ampliação dos benefícios e serviços socioassistenciais, 30 milhões de pessoas saíram da pobreza, ampliando o contingente populacional da classe C no Brasil. No DF, não foi diferente.

De 2001 a 2011, segundo a Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (Pnad/IBGE), a classe C (pessoas com renda per capita de R$ 274 a R$ 961, em valores de 2011) cresceu de 39,6% para 50,4% da população. No DF, esse crescimento foi de 35,6% para 45,8%. Em 10 anos, em termos absolutos, saltou de aproximadamente 765 mil pessoas para 1,2 milhão de pessoas no Distrito Federal. Nesse mesmo período, a classe A/B cresceu de 29,5% para 37,6%, enquanto a classe D/E caiu de 34,9% para 16,6%, decorrente da redução da pobreza também no Distrito Federal.

A dinâmica demográfica mostra que aumentou o predomínio, de 63,4% para 66%, de jovens e adultos em idade produtiva (18 a 59 anos). A participação dos idosos cresceu de 3,4% para 4,8%, enquanto que a de crianças e adolescentes diminuiu de 33,2% para 29,2%. Quanto à raça/cor, a população negra (pardos e pretos) na classe C cresceu de 58,6% para 62,6%, enquanto no conjunto das classes no DF esse percentual passou de 54,5% para 56,4%.

Em termos de escolaridade, em 2001, 40,1% das pessoas da classe C possuíam nove anos ou mais de estudo; em 2011, esse percentual saltou para 52%. No conjunto das classes no DF, esse percentual saltou de 43,4% para 58,3%. Já em relação à ocupação, o comportamento da classe C (de 65,3%, em 2001, para 73,9%, em 2011) assemelha-se à tendência geral do conjunto das classes no DF (de 64,3% para 71,2%).

Quanto aos bens de consumo, há um aumento dos domicílios com máquina de lavar (de 40,4% para 59,7%) e com microcomputador (de 11,6% para 55,6%), além de altos percentuais de domicílios com fogão, geladeira e televisão, acima de 94% em todo o período. No Distrito Federal, segundo a Pesquisa Distrital por Amostra de Domicílios (Pdad/2011, da Codeplan), enquanto na classe D/E, 25,4% das famílias possuem automóvel, nas classes C e A/B, esse percentual corresponde a 48,8% e 85,2%, respectivamente.

Entretanto, concordando com William Nozaki, sociólogo e economista, professor da Universidade Mackenzie, esse movimento tem menos a ver com a tradicional classe média e mais com a formação de uma nova classe trabalhadora, diferente daquela que se formou nos anos 1970, a partir de sua organização, sindicalização e inserção na política partidária.

Essa nova classe trabalhadora, com o crescimento de seu nível de renda, começa a se aproximar, em alguns aspectos, aos hábitos de consumo da classe média. Diferentemente dessa, no entanto, não dispensa o acesso ao sistema público de serviços, em especial de educação e saúde. Ao contrário, precisa dele.

Essa nova classe C não está fadada ao propalado conservadorismo da classe média nem automaticamente vocacionada ao distanciamento da vida político-partidária. Ao experimentar maior nível de renda, essa nova classe possui expectativas de progresso social e melhoria da qualidade de vida. Portanto, torna-se mais exigente com a garantia de direitos e o acesso e qualidade dos serviços públicos. Apesar da sua importância, a focalização de programas sociais na pobreza e, principalmente, na extrema pobreza precisa continuar.

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